10º Seminário Anual de Serviço Social
“Um ou dois anos antes do primeiro Seminário, realizado em 2007, recordo-me que queríamos realizar algo que marcasse definitivamente a nossa união e comprometimento entre a nossa editora e o Serviço Social brasileiro”, assim José Xavier Cortez lembrou como tudo começou.
Todos os Seminários Anuais de Serviço Social, realizados pela Cortez Editora são importantes para a categoria e interessados nos temas, mas a edição de 2017 foi especial, afinal comemora-se dez anos do evento, que anualmente lota a plateia do TUCA, teatro da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP).
E o tema deste ano foi um retrato fiel da atual conjuntura: “Trabalho, Seguridade Social e regressão dos direitos sociais: para onde vai o Serviço Social?” Uma pergunta difícil para os conferencistas que trouxeram profícuas análises para reflexão dos participantes.
Conferência: Estado e seguridade social no contexto da crise do capital
Participaram desta mesa de debates a professora Virgínia Fontes e a professora Sara Granemann. O professor Ademir Alves da Silva foi o mediador.
Virgínia Fontes:
A professora iniciou sua análise falando sobre capitalismo e crise. “O capitalismo é a condução incessante de necessidades através do processo que para ele é fundamental que é a valorização do valor. Traduzindo, ele precisa que tenhamos mais necessidades de maneira que ele possa valorizar o valor.” Para ela, o capitalismo é o contrário da liberdade. “Uma sociedade que produz necessidades nega a liberdade”.
Outro ponto que faz parte do processo, da dinâmica interna é a produção de desigualdade, o que significa produzir pobreza. “Ainda quando os trabalhadores consomem mais a desigualdade ocorre”, afirmou. “O caso que estamos assistindo agora em que há uma rapinagem massiva de direitos fica mais visível, cadente e claro, mas o processo é de permanente crise de superprodução, temos permanentemente uma captura de recursos do conjunto da classe trabalhadora para se converter estes recursos em capital”, completou. “Essa conversão de recursos sociais em capital e em extração de valor envolve uma destruição massiva tanto do ser social quanto do metabolismo deste ser social com a natureza.”
Sara Granemann:
A professora analisa, pela sua pesquisa nos últimos anos, que há uma mudança de qualidade no modo de produção capitalista. “Uma mudança de qualidade que significa, na minha consideração, compreender que, no estágio atual do modo de produção capitalista, não pode mais haver a forma Estado de Bem Estar Social”, acredita. O Estado de Bem Estar Social que tão bem conviveu com a democracia, é tida hoje pelos detentores do capital como uma forma ultrapassada. Da década de 60 para cá, há a tendência de transferência dos fundos públicos para garantir as taxas de lucro que estão em vertiginosa queda. “Estão em queda porque não há como na configuração com 7 bilhões de almas neste planeta não há como consumir as mercadorias como no estágio anterior”, expôs. A professora explicou que as taxas de juros são equilibradas regionalmente, como por exemplo, com o trabalho análogo ao escravo na China, no entanto é só regionalmente e não em escala mundial como ocorreu após a segunda guerra mundial quando houve grande demanda pela reconstrução dos países envolvidos no conflito.
Conferência: Crise do capital, trabalho e regressão dos direitos – Para onde vai o Serviço Social?
Participaram desta mesa de debates o professor Ricardo Antunes, a professora Ana Elizabete Mota e a professora Maria Inês Souza Bravo. A mediação foi feita pela professora Dirce Koga.
Ricardo Antunes:
Para o professor temos uma “trípode destrutiva” que preside o mundo desde o fim dos anos 60, mais precisamente desde 1968. Naquele momento fracassava o Estado do Bem Estar Social. Esta trípode tem três ‘patas’, uma delas é a reestruturação global que mudou o capitalismo para que nada fosse alterado, agora é a lógica da devastação sem concessão. A precarização deixa de ser a exceção e passa a ser a regra.
O século XX foi o século do automóvel e tudo de perverso que veio com isso. Já o século XXI será o século da era digital. “Se no século XX tivemos os escravos assalariados pobres, o século XXI é o século da escravidão dos trabalhadores da era digital. Somos todos escravos digitais”, expôs. Essa fase começou com Margaret Tatcher na Inglaterra, Helmut Kohl, na Alemanha e Ronald Reagan nos Estados Unidos. “E vocês conhecem o neoliberalismo: privatização de tudo, privatização da previdência pública, privatização da saúde pública, privatização da educação pública, privatização de tudo que interessa ao mundo das privadas”, alegou.
Maria Inês Bravo:
Sua fala foi baseada em cinco eixos: 1- conjuntura atual, 2- importância das lutas sociais em defesa da Seguridade Social, 3- Movimentos em defesa da saúde e seguridade, 4- desafios ao Serviço Social, 5- proposições para a defesa da Seguridade Social pública e estatal. Ela discorreu sobre o que chamou de “barbárie da vida social”, marcada pela recessão, desemprego, ajustes fiscais, diminuição dos direitos sociais e criminalização dos movimentos sociais. Falou também sobre o avanço da extrema direita apoiada e sustentada pela imprensa midiática e pela maior entidade empresarial brasileira – a Fiesp. “A saída da crise é pela esquerda, ou seja, necessidade de uma frente anticapitalista e anti-imperialista que paute questões fundamentais para os trabalhadores”, opinou.
Ana Elizabete Mota:
“A questão que esta mesa nos faz: Para onde vai o Serviço Social brasileiro? Encerra uma tarefa muito desafiante, especialmente por não se tratar de uma questão específica do Serviço Social. Na realidade, nós temos que perguntar: Para onde vai a sociedade brasileira? A nossa pergunta vem logo em seguida: E nós, para onde vamos dentro desta conjuntura?” , iniciou sua palestra com este desafio. Este desafio exige reflexões e análises levadas a efeito, principalmente pelos setores organizados e insurgentes da sociedade brasileira à esquerda, nos quais nos incluímos ou nos quais se incluem representativos segmentos da profissão, os vinculados à academia, as organizações politico-profissionais, o movimento estudantil e ao exercício profissional.
“Estamos assistindo ao fim de um ciclo e o início de um momento regressivo na sociedade brasileira que nos impacta pela ofensividade para construir consensos alienantes, demandando avaliações e reflexões que nos permitam coletivamente e individualmente, também nas universidades, em todos os espaços, pensar para afirmar, definir e redefinir estratégias político-pedagógicas e formulações teórico-analíticas para enfrentar a batalha do apagamento das referências e das pelejas da nossa luta social, profissional e do pensamento de esquerda”, resumiu sobre a atual conjuntura.
Presidente da AASPTJ-SP recebe homenagem pelos dez anos do evento
A presidente da AASPTJ-SP, Elisabete Borgianni, recebeu da Cortez Editora uma homenagem por ter idealizado o Seminário Anual de Serviço Social junto com o presidente da editora José Xavier Cortez.
Miriam Cortez, filha do presidente da editora, e que trabalhou com Elisabete, apresentou a homenagem com um vídeo de retrospectiva dos dez anos de Seminário. “A poetisa Cora Coralina nos ensina que ‘feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.’ Posso dizer que sou feliz porque aprendi muito com o Serviço Social, especialmente, com a Bete”, afirmou. “É justo expressar e reconhecer seu protagonismo na construção deste evento, seminário este que valoriza, afirma a profissão e contribui significativamente para o alargamento ideológico-político e teórico-metodológico do Serviço Social na sociedade brasileira”, completou.
“A Cortez foi a única editora a investir no Serviço Social brasileiro. Gostaria de dizer para vocês como foi a gênese deste seminário. Um dia o Cortez chegou pra mim e disse: ‘Eu ganhei tanto do Serviço Social brasileiro, como pessoa, como editor, como cidadão que eu queria retribuir aos assistentes sociais brasileiros tudo isso que eu ganhei com o Serviço Social e ele não estava falando como empresário, falando só de lucros. Ele dizia: ‘eu gostaria de fazer alguma coisa’, daí surgiu a ideia do seminário”, contou Elisabete agradecendo a homenagem.
Veja vídeo com a homenagem completa
Homenagem à Carmelita Yazbek
Na décima edição do Seminário a homenagem especial foi para a professora Maria Carmelita Yazbek e foi apresentada pela professora Marilda Iamamoto. “Quando recebi o convite da Editora Cortez para fazer a homenagem minha alma se encheu de alegria e aceitei sem titubear. E o fiz pela imprescindível presença da professora Carmelita na construção da história do Serviço Social brasileiro nas últimas décadas, pela forte integração que ela condensa entre assistente social, educadora e cientista enraizada nos dilemas do país e pela bela e sólida amizade que nos une há mais de três décadas, percorrendo os fios que tecem a vida e a profissão”, expressou-se Marilda.
“Quero agradecer especialmente àqueles que me construíram como assistente social, como professora, como pesquisadora, minha família, meus amigos muito queridos que estão aqui, de outros lugares, que vieram de longe, meus amigos daqui, meus amigos que vieram de fora, meus companheiros e companheiras de profissão, os professores com a tarefa difícil de passar e produzir conhecimento, meus orientandos, meus amigos pesquisadores e àqueles para os quais o nosso trabalho se destina, a razão de ser da nossa profissão, do nosso projeto, do nosso empenho, da nossa vida”, agradeceu Carmelita.