5º Seminário Anual de Serviço Social
Com o tema “Assistentes sociais diante das atuais expressões da questão social no Brasil – que formação para qual intervenção?”, o 5º Seminário Anual de Serviço Social reuniu no último dia 14 aproximadamente 700 pessoas no Teatro Tuca, em São Paulo.
“Temos aqui hoje estudantes, professores e profissionais não só de São Paulo, mas de todo o país, em busca de conhecimentos e reflexões críticas da práticas do Serviço Social”, expôs José Xavier Cortez, fundador da Cortez Editora, organizadora do evento.
O Seminário apresentou duas importantes mesas de debates. A primeira, realizada no período da manhã falou sobre “crise do capital, particularidades da questão social no Brasil e a organização dos trabalhadores em seu estágio atual”. O primeiro convidado a expor foi o professor José Paulo Netto, cuja palestra tratou da questão da “barbarização da vida social”. Segundo o especialista, com a atual crise do capitalismo, o assistente social transformou-se num dos profissionais que “gerencia a barbárie”. Ainda de acordo com ele, a chamada crise do Euro “é coisa de colunista econômico”. “O que há é uma depressão generalizada da economia, com cortes escandalosos na área social, que atingem a classe trabalhadora”. Disse ainda que houve profundas transformações societárias desde a década de 70, “mas nenhuma destas modificações trouxe ganhos para a classe trabalhadora que viveu altas taxas de desemprego, arroxo salarial e precarização da seguridade social,” expôs.
A segunda palestrante foi a professora Josiane Soares Santos. O objetivo da sua fala foi o de pensar como a relação capital/trabalho se dá historicamente no Brasil. “A formação da força trabalhadora no Brasil se deu na década de 20, com regulamentação nos anos 30. Era uma cidadania controlada já que se restringia ao espaço urbano”, explicou. “O grosso do povo brasileiro ficou de fora desta regulação. Essa situação se agravou na ditadura militar com a instituição do FGTS, o que acabou com a estabilidade, já que era só pagar a indenização para demitir”, completou.
O último palestrante da mesa, o professor Marcelo Braz, iniciou sua fala dizendo que sua visão é um pouco pessimista. Ele trouxe vários dados estatísticos para sustentar sua opinião: 80% da população mundial vive no hemisfério sul e possui só 20% dos recursos mundiais; a produção de alimentos atual é capaz de 15 bilhões de pessoas, mas 1/3 das pessoas passam fome; no Brasil 0,1% dos brasileiros controlam quase metade da renda nacional. Para ele, hoje vivemos dois tipos de conservadorismo: o de direita e o de esquerda. “O primeiro se apoia no fim da historia e o segundo vive do anacronismo”, disse. Por fim, afirmou que “o problema das esquerdas está no plano da organização política. Como afirma o José Paulo Netto, quem erra na análise, erra na ação”.
A mesa da tarde debateu “o exercício da profissão e o papel da formação crítica e de qualidade frente aos desafios da judicialização das expressões da questão social e da privatização da saúde”. O debate começou com a palestra da professora Yolanda Guerra, que se propôs a falar sobre o impacto do capital financeiro no social. Para ela, a sociedade vive a pressão do “aqui e agora”. “Só se produz o que é demandado com pouco tempo para reflexão”, alegou. E esta pressão chegou à educação. “Quando não se dosa a evolução da tecnologia, ela acaba por substituir a convivência pessoal e leva ao isolamento do indivíduo. Esse sistema altera o perfil dos profissionais que estamos formando. Hoje se valoriza o isolamento, o empreendedorismo e a flexibilidade”, acredita. “É um paradoxo. Precisamos cada vez mais de pessoas que questionem criticamente este sistema, porém os profissionais, em sua maioria, estão se formando sem a capacidade de refletir sobre esta questão”.
A segunda palestra foi da presidente da AASPTJ-SP e conselheira editorial da Cortez Editora, Elisabete Borgianni. Sua fala teve como tema a tendência à judicialização da questão social. Com as políticas neoliberalista que tendem a prejudicar o social, o Poder Judiciário passou a ser cada vez mais acionado em busca da garantia ao acesso básico de cidadania. Para Elisabete, há ai uma contradição, já que o Judiciário, assim como os demais Poderes, no contexto capitalista, acaba por garantir e favorecer a lógica da ordem política burguesa, o que afeta diretamente o trabalho do assistente social. “Hoje vivemos sob o raciocínio do possibilismo: Se eu não fizer este laudo criminológico com uma entrevista de 20 minutos, o preso não poderá progredir, se eu não fizer o depoimento sem dano, o TJ não contratará mais assistentes sociais. Então, eu faço o que posso dentro dos limites impostos pelo sistema,” expôs.
Por último, houve a palestra da professora Maria Inês Bravo que trouxe uma rica análise sobre a importância de uma formação crítica diante da privatização da saúde. De acordo com ela, existem hoje três projetos em disputa na saúde: o da reforma sanitária, que se iniciou nos anos 80, o projeto privatista, que ganho força da década de 90 e o de uma reforma sanitária flexibilizada. Segundo seus dados, a tendência dos últimos governos tem sido o de criar programas que viabilizem cada vez mais a gestão privada da saúde pública. Ela deu como exemplo o fato de o governo recentemente ter nomeado empresas como o McDonalds e a Coca-Cola como “parceiros da saúde”. Inês falou sobre a luta da Frente Nacional contra a privatização da Saúde, que pode ser conferida no site: www.contraprivatizacao.com.br