Despedida, dever cumprido e alguns sonhos realizados... 

 

 

Dayse Cesar Franco Bernardi

Caros componentes da mesa, colegas e autoridades presentes.
Sei que os discursos longos não são oportunos nesse momento de festa, alegria e descontração. Hoje é o dia de posse da diretoria eleita e também de despedida da Gestão “Construindo a Manhã Desejada” que se findou no último dia 29 de junho.

 

 

 

Por isso, peço licença à todos para me despedir da função para qual fui eleita  junto as companheiras com quem trabalhei nesses últimos quatro anos.

 

 

 

 

 

 

 

 

Desejo externar meu sentimento de alegria por terminar a gestão com o dever cumprido e alguns sonhos realizados. Um deles, foi o de ter uma nova diretoria, legitimamente eleita, composta por colegas competentes e comprometidas que, certamente farão a AASPTJSP crescer e se fortalecer na digna representação dos assistentes sociais e psicólogos judiciários do Tribunal de Justiça paulista.

 

 

 

 

 

 

Exercer a presidência da entidade por quatro das seis gestões ocorridas desde 1992 até hoje, foi certamente uma experiência genuína que marcou minha vida profissional e pessoal, definindo em última instância minha própria identidade.

 

 

 

 

 

 

Aprendi muito e a responsabilidade desses anos todos me ajudou a definir um projeto profissional comprometido politicamente com a garantia de direitos fundamentais de cidadania. Penso que, em qualquer tempo e lugar, esta será a marca de minha vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

Por isto, acredito que essa despedida precisa ser feita de forma cuidadosa, carinhosa buscando encerrar uma fase da história da AASPTJSP com o mesmo empenho que a construímos ano a ano, gestão por gestão. Desde a Assembléia Geral em que se optou pelo associativismo como forma de representação do coletivo de assistentes sociais e psicólogos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, até hoje, quando encerramos a gestão “Construindo a Manhã Desejada” cumprindo da melhor forma possível, a carta programa para qual fomos eleitas.

 

 

 

 

 

 

Para tanto, em um esforço de registro histórico, procuramos documentar os movimentos de criação e desenvolvimento do Serviço Social e da Psicologia no Poder Judiciário e, a consolidação da AASPTJSP como um espaço de definição dos rumos de nossas profissões nesse âmbito. A história da entidade contada nas linhas do tempo e relatada no DVD do Projeto Memórias da AASPTJSP, nos relembra o quanto a associação foi fruto do trabalho de muitas colegas que, assim como nós contribuíram para a consolidação de um projeto profissional interdisciplinar no âmbito do Poder Judiciário. Encerramos a gestão com o lançamento do DVD Memórias da AASPTJSP, esperando que todos nós possamos nos reconhecer como atores ativos da construção dessa história.  

 

 

Tenho a sensação de que as sementes plantadas ao longo dos 17 anos da AASPTJSP germinaram.

 

 

 

 

 

 

Nossa história de vida profissional se misturou com a consolidação da AASPTJSP como uma entidade representativa, respeitada e combativa que reúne a maioria dos profissionais dos serviços interdisciplinares da Justiça da Infância e Juventude, da Justiça da Família e Sucessões. Além dos demais setores conquistados nesse tempo, tais como o Núcleo de Apoio Profissional, o Serviço Psicossocial, o CEJAI, os setores de treinamento, capacitação, readaptação da SRH, o Creche – Escola, entre outros.

 

 

 

 

 

 

No trabalho realizado ao longo destes quatro anos de gestão “Construindo a Manhã Desejada” priorizamos as visitas a muitas das Comarcas do interior do Estado e aos fóruns regionais da capital. Foi uma estratégia para conhecer e ouvir as vozes que nos falavam ao telefone das mazelas do seu cotidiano, de estar mais perto e juntos buscarmos o sentido da prática profissional, a transformação do sentimento de abandono e menos valia em possibilidades de mudança e de dignificação do exercício profissional no âmbito das instituições judiciárias.

 

 

 

 

 

 

 

 

Estamos forjando nossa identidade profissional ao mesmo tempo em que construímos uma prática transformadora da realidade cotidiana.   A busca de referenciais para uma ação competente, pautada na realidade complexa do trabalho institucional nos moveu a lutas pela garantia de direitos fundamentais da infância e da juventude, a partir da matricialidade nas questões das entidades familiares.  A elaboração e, publicação de estudos e pesquisas, sobre a atuação profissional na área judiciária, permitiu a socialização de conhecimentos sobre uma realidade até então adormecida - a judicialização de problemas sociais e de conflitos humanos.

 

 

 

 

 

 

Avançamos de assessores da magistratura para integrantes do Sistema de Garantia de Direitos, participando da defesa intransigente dos direitos humanos, da definição e consolidação de políticas públicas, do trabalho articulado em rede.

 

 

 

 

 

 

 

 

Redefinimos as funções para além dos diagnósticos caso-a-caso e, fomos aos poucos revelando a riqueza das memórias humanas e sociais  escondidas nos processos judiciais. Os dados do cotidiano foram organizados em pesquisas, em livros, em debates acalorados nas cidades do interior, nas universidades, nas reuniões com as entidades estaduais e nacionais dos servidores públicos.

 

 

 

 

 

 

Não por acaso, a AASPTJSP é hoje uma entidade convidada a participar e opinar sobre as diretrizes nacionais de atuação profissional de assistentes sociais e psicólogos judiciários. 

 

 

 

 

 

 

 

 

Esta trajetória vitoriosa guarda momentos difíceis de tensão, rompimentos, lutas, greves, para garantir condições dignas de trabalho, salário justo, Plano de Cargos e Carreira, capacitação continuada. Uma luta permanente que nos desafia enquanto servidores públicos - trabalhadores cujos direitos vem sendo retirados ao mesmo tempo em que se retira do cidadão o direito ao serviço público de qualidade.

 

 

 

 

 

 

O processo de construção do projeto profissional permanece e, com ele, o incremento de ações necessárias à continuidade da entidade como um espaço de resistência ao desmanche dos serviços públicos pelo governo estadual. As lutas foram ficando mais complexas e difíceis ao longo dos anos e, atualmente, vivemos um momento especialmente desafiador para consolidação das lutas trabalhistas.

 

 

 

 

 

 

A contextualização de nossas lutas históricas aponta para um crescente enfraquecimento do serviço público. Os trabalhadores estão à míngua com um aumento brutal de velhas e novas demandas de trabalho, sem que as condições de trabalho sejam alteradas. Conseguimos a realização de concursos e provas seletivas em 2005, no entanto, até agora, tivemos a contratação de apenas 23% dos aprovados.  Ao invés da criação de cargos o TJSP optou por contratar pela lei 500, condenando parte dos profissionais contratados ao regime previdenciário do SPPREV. Lutamos e vencemos a batalha de incluir no regime próprio de aposentadoria pelo TJSP todos os colegas contratados pela lei 500 antes da modificação do regime previdenciário em 2007. Agora, teremos que lutar pelas mudanças da lei 500 aprovadas na calada da noite da Assembléia Legislativa de São Paulo em 2009. 

 

 

São Paulo, o estado pioneiro na efetivação das equipes interdidciplinares, tem hoje uma defasagem de pessoal que compromete a própria eficácia do trabalho. O adoecimento dos profissionais e a crescente demanda por defesa jurídica (processos administrativos e éticos) apontam para novas etapas e estratégias de luta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A questão principal não é mais conquistar um lugar para exercer a profissão, mas, de mantê-lo, aprimorá-lo, não se deixando vencer pela apatia do TJSP em cumprir com suas obrigações para com os servidores.  Não podemos mais nos omitir frente ao desequilíbrio entre os Poderes de Estado e a conseqüente ameaça ao estado democrático de direito. A falta de autonomia administrativa do Poder Judiciário se tornou um problema estrutural que atinge os servidores de forma perversa. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nós precisamos nos unir e mantermos juntos a sabedoria daqueles que não esmorecem nunca. Somos sabedores de nosso inestimável valor e importância no cenário das transformações sociais e políticas. Mas, precisamos, também nos empoderar, para não perdermos a nossa especial capacidade de escuta do outro. De recuperarmos o diálogo em todos os momentos e com todas as pessoas com quem trabalhamos. Lutar por melhores  condições de trabalho e, também, por uma ação transformadora dos sentidos de nossa prática profissional frente aos dilemas e conflitos humanos que buscam no Poder Judiciário justiça.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O legado fala por si e, as conquistas das inúmeras lutas travadas neste percurso demarcam a história de uma categoria de profissionais vencedores.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sabemos que, apesar de tanto empenho ainda há muito por se fazer para que possamos manter a dignidade de nossas profissões,  com um salário justo e um Plano de Cargos e Carreiras que responda às nossas especificidades funcionais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Neste momento, de passagem para a nova diretoria eleita, “Participação e Compromisso”, quero cumprimentar as novas lideranças que assumem hoje a AASPTJSP.  E, com ela, o compromisso de manter a associação no cenário das lutas coletivas dos servidores públicos, como uma lamparina que consegue iluminar a escuridão, trazendo luz para a leitura esclarecedora dos conflitos e sabedoria na escolha das estratégias de luta. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nós queríamos construir uma “Manhã Desejada” e, o sol nos iluminou nessa passagem, permitindo que chegássemos até aqui. Desejamos que ele possa continuar aquecendo a associação como um terreno fértil para a consolidação das nossas profissões e para a conquista de nossos direitos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tomo a liberdade de me despedir pessoalmente, colocando a minha disposição em estar junto, em todos os momentos em que a experiência acumulada possa ser útil nas nossas lutas comuns.

 

 

 

 

 

 

 Despeço-me com a consciência tranqüila de que ofereci o que tinha de melhor e, que inevitavelmente é impossível responder a todas as expectativas.  

 

 

 

Levo comigo a lembrança viva das pessoas que trabalhando junto, permitiram a realização das ações aqui brevemente citadas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sem a Célia, não teríamos a AASPTJSP reformada, com espaços organizados, completamente renovada e acolhedora. As contas enxutas nos permitiram os avanços tecnológicos com a informatização, viagens, reforma do site, biblioteca virtual, eventos e publicações. Sem ela o cafezinho ainda estaria na garrafa térmica... e com certeza, nosso dia-a-dia não teria sido tão agradável.  

 

 

 

Sem a Maricler, não participaríamos com o mesmo empenho da Federação das Entidades do Serviço Público (FESPESP), do SINP, da lutas na ALESP e nas praças da cidade.  Com ela integramos definitivamente novos espaços de participação e de compromisso.

 

 

 

 

 

 

 Sem a Ana Maria seria impossível estar em todas as cidades com notícias atualizadas, atas e assuntos documentados e, principalmente, cada ação exaustivamente repensada.

 

 

 

Sem o Conselho Fiscal composto por Luzia, Rosali, Claúdia, Izabel e Nair, nossas contas não estariam tão em ordem, nossa organização não teria se aprimorado e, com certeza, não teríamos aprendido tanto sobre coleguismo e seriedade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sem os membros do conselho de representantes não estaríamos a par das necessidades locais e nossas ações não seriam traduzidas para as especificidades de cada foro. Foi a partir dele que a AASPTJSP se renovou trazendo para a nova diretoria eleita alguns de seus membros como a primeira tesoureira Ester de Presidente Prudente, o segundo secretário Paulo de Itapeva e conselheira fiscal Margarida de Fernandópolis.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agradeço especialmente, às assessoras Sonia Guerra, Vilma Regina, Vanderli Caruso, Ana Carolina, Lourdinha que no empenho de todos os dias tornaram a gestão da AASPTJSP possível.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agradeço às funcionárias Claúdia, Cátia e Graça por fazerem tudo para que o trabalho se desenvolvesse ao nosso contento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agradeço aos companheiros das entidades irmãs com quem tanto aprendemos de resistência, persistência e combatividade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agradeço as organizações parceiras com quem pudemos realizar tantos projetos e espero que eles se ampliem nessa nova etapa da associação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agradeço à minha filha Graziella que, compartilhou toda sua infância e adolescência com sua mãe sempre muito ocupada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agradeço ao Henrique, meu companheiro, que pacientemente me esperou e me ouviu nas horas mais difíceis dessa jornada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agradeço, enfim, aos associados pela confiança.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Muito obrigada,

 

 

 

 

 

 

 Encerro, descobrindo que a despedida só se dá em relação ao exercício de uma função institucional de Presidente da AASPTJSP, mas, que o compromisso político com as lutas da categoria permanece. Continuo, antes de mais nada, uma “aaspiana”...  Um sonho que se sonha sozinho é apenas um sonho, Um sonho que se sonha junto é realidade...