Discurso Elisabete Borgianni - Posse Diretoria 2009-2013
Boa noite a todos e a todas.
Em primeiro lugar quero cumprimentar os membros da mesa e também agradecer as autoridades que nos prestigiam com sua presença, os amigos, os dirigentes das entidades parceiras e os companheiros de trabalho do cotidiano: assistentes sociais e psicólogos do Judiciário Paulista.
Homenageio e agradeço também às funcionárias e assessoras da AASPTJ-SP e aos nossos familiares, que tanta força e apoio nos dão para que possamos assumir esta responsabilidade.
Agradeço e homenageio ainda, os membros da Diretoria e do Conselho de Representantes que se despedem, ressaltando o trabalho exemplar desempenhado por vocês, tanto do ponto de vista político como administrativo.
Estamos recebendo uma entidade fortalecida em seus processos de gestão, sem dívidas ou pendências financeiras, e que tem a respeitabilidade de seus associados e dos demais parceiros.
O trabalho de vocês nestes últimos quatro anos só fez engrandecer o patrimônio de nossas duas categorias, e significou muito também no processo de articulação com os demais trabalhadores do Judiciário paulista.
Só temos a dizer-lhes: muito obrigada e contem com o nosso respeito sempre.
Sabemos que o trabalho da AASPTJ-SP ganha complexidade diante de cada nova conjuntura, e esta, em particular, é muito desafiante.
Vivemos um tempo de traumas e de dores que atingem a alma e o corpo de nossa sociedade;
Traumas e dores que atingem de forma brutal as camadas mais empobrecidas da população (que vemos aí nas ruas espalhados como verdadeiros dejetos humanos), mas também ferem duramente as camadas médias da sociedade (ferem a nós!!): profissionais liberais, técnicos ou pessoal de nível superior que julgavam-se seguros em seus empregos e tinham a esperança de um futuro protegido.
É óbvio que os efeitos desta última crise capitalista estão adentrando também as estruturas da Justiça: solapando direitos de seus servidores, precarizando ainda mais os atendimentos dos interesses de seus usuários e acirrando as diferenças e desigualdades internas já existentes há muito tempo neste importante Poder do Estado.
E notem: os efeitos desta crise estão sendo potencializados, entre nós, assistentes sociais, psicólogos, escreventes, oficiais de justiça e tantos outros trabalhadores do Judiciário, pela maneira como a maioria dos dirigentes do Tribunal vêm lidando com as demandas que lhes são colocadas.
A atual administração do Tribunal, ao invés de trabalhar para o fortalecimento de suas estruturas internas, e pela valorização de seus recursos humanos, permite o seu desmonte e provoca a sua desvalorização social.
A despeito dos pedidos cotidianos que têm feito os assistentes sociais e psicólogos judiciários sobre a necessidade de mais profissionais nas equipes, e de melhores condições para a realização dos complexos estudos e diagnósticos que têm que realizar sobre as situações de graves violações de direitos, o Tribunal faz ouvidos moucos e parece ignorar os pleitos destes profissionais.
Estamos todos trabalhando no limite de nossa exaustão física e mental e sob a pressão moral de uma realidade que torna cada caso atendido mais e mais complexo a cada mês. Vamos para nossas casas ao final do dia carregando em nossas mentes o sofrimento das mães que vêem impotentes seus filhos serem recrutados pelo comércio das drogas; levando em nossos corações o peso das centenas de processos que abarrotam nossas mesas, sendo que cada um deles diz respeito a vidas reais, a conflitos que precisam ser enfrentados de forma justa, competente e humanizada.
Mas as condições concretas para isto são quase que inexistentes hoje.Por isso, a AASPTJ-SP não pode silenciar diante da violação de direitos que a própria Casa da Justiça vem perpetrando.
E diríamos até que as correições que são feitas nas Varas deveriam identificar não só se os prazos processuais estão sendo cumpridos, mas, sobretudo, em que condições estão sendo executados.
Muito bem, essa Diretoria que entra agora, conta com pessoas de grande experiência na área, e tem uma característica importante que é a de ser formada também por vários colegas do interior do Estado.
Esse interior que além de representar a proximidade com a gênese da formação econômico-social do Brasil, e que hoje combina o arcaico com o moderno, sob o discurso do desenvolvimento agrícola em moldes empresariais, mas que continua realizando a exploração do trabalho e a apropriação privada de seus frutos, de forma cada vez mais sofisticada; este interior que é também a expressão de participação dos movimentos sociais e populares, na luta pela reversão das formas barbarizantes de vida que se instalaram neste país, tão grande e desigual.
Em nossa gestão procuraremos, sobretudo, a coerência entre o discurso e a ação e não desejamos prometer aquilo que será difícil cumprir.
Mas saibam todos, que estamos nos propondo a lutar para que os assistentes sociais e psicólogos, além de melhores condições de trabalho, possam ter a oportunidade de se aperfeiçoar nas respostas às novas demandas trazidas pelo marco legal de proteção a vítimas de violência, de proteção à convivência familiar e comunitária, de efetivação dos direitos sócio-assistenciais trazidos pelo Sistema Único de Assistência Social, de efetivação dos princípios do Sistema Único de Saúde, e de uma política de Saúde Mental e de enfrentamento dos agravos do uso abusivo de álcool e drogas em nossa sociedade, e tantos outros.
Buscaremos fortalecer o trabalho dos assistentes sociais e psicólogos também nas Varas de Família e Sucessões, que vêem aumentar, a cada dia, os litígios por questões financeiras entre duas gerações de adultos, como pais e avós, e também os processos relativos a questões de separação, dissolução de união estável e questões de alimentos.
Os conflitos de família agravaram-se, e surgiram novas ou recriaram-se antigas formas de alienação parental de crianças.
Trabalharemos articulando nossas forças com as demais entidades de nossas categorias, e sempre buscando sermos úteis para a Associação, mas não imprescindíveis, e para isto precisaremos caminhar também na direção da formação de novos quadros que possam vir a assumir a próxima gestão da AASPTJ-SP, compromissados com sua história até aqui exemplar.
E, saibam, senhoras e senhores, que trabalharemos movidos pela vontade de que relações sociais e de poder sejam transformadas e que consciências sejam politizadas.
Pois nosso compromisso é com o sonho.
É com a utopia de uma sociedade socialmente regulada e justa. Onde a desigualdade social e muitos dos sofrimentos psíquicos sejam meros defeitos a corrigir e não, como nesta forma de organização social em que vivemos, suas características intrínsecas e necessárias.Enfim, nossos compromissos são com uma construção coletiva que, como sempre coloca a assistente social Joaquina Barata Teixeira, seja pautada por uma postura ética que promova uma ruptura com os vícios dos autoritários, dos indiferentes, dos egoístas e dos violentos, que se nutrem de valores contrários à emancipação humana.
Muito Obrigada