Manifestação do associado: Uma política a ser expurgada
Quem vê na Política atividade fundamental, por extrapolar o individualismo e voltar-se aos interesses coletivos, tem dificuldade em defendê-la num ano de eleições e promessas. No futuro, tudo parece igual. No passado, quase tudo: esquemas que direcionam gastos públicos, conquistam aliados, a generalizada falta de transparência. Dentro de casa, na relação com os servidores públicos, entretanto, os partidos têm sido muito diferentes, a maioria apresentando uma ética dúbia que não é exclusividade da política, nem da atualidade. Desde os tempos bíblicos já se condenava a hipocrisia, e hoje se sabe ser comum que abusadores domésticos coloquem-se acima de qualquer suspeita em sociedade, como a procuradora que humilhava e agredia as empregadas e a criança que adotara.
Há agremiações políticas que criaram imagem de ética e eficiência na gestão, mas à custa da imposição de perdas sistemáticas aos servidores. Tem sido tão influente esse pensamento que hoje se vê privilégios e inchamento da máquina onde existem apenas reposições inflacionárias e concursos. Confunde-se deliberadamente o servidor comum – que, concursado, oferece saúde, educação, habitação, assistência social – com os que recebem altos salários, nomeados conforme a lógica eleitoral.
Essa confusão intencional precisa ser desmascarada e banida de nossa sociedade. A contratação de construtoras e empresas de lixo a preços abaixo do mercado, seguida de suplementações injustificáveis; a constante criação de cargos de livre nomeação, em detrimento dos servidores concursados e do interesse público; a sistemática majoração, acima da inflação, de pedágios a concessionárias, sem que haja sequer reposição para professores, policiais, médicos, nada têm de ético. No Executivo, no entanto – onde essa ideologia que tira dos pobres para dar aos ricos já ocupou os três níveis de governo -, pode-se fazer justiça com o voto. Mas há poderes públicos onde essa cultura mostra-se escandalosa que nem eleições oferecem.
O Tribunal de Justiça de São Paulo não vem oferecendo reajuste aos servidores há muitos anos sem que isso tenha impedido os juízes e desembargadores que o administram de concederem a si mesmos diversos reajustes. No momento, aliás, que a Justiça estadual se nega a repor sequer as perdas dos servidores, noticia-se que o Supremo Tribunal Federal elaborou proposta segundo a qual, mesmo após os reajustes de setembro de 2009 e janeiro de 2010, os ministros receberão novo reajuste em 2011 e no valor de 14,79%. Não satisfeitos, tal proposta cria a reposição automática anual em níveis estipulados pelo próprio STF, sem autorização do Congresso.
É preciso repudiar tal cultura administrativa. É essencial varrer, com voto e com pressão, os representantes de tal ideologia. É claro que é preciso promover a melhoria dos serviços públicos, que se deve evitar greves que punem novamente a população, a principal vítima dessa ideologia, mas é essencial que a sociedade brasileira compreenda que o retorno eficiente e racional de seus impostos está na prestação de serviços públicos de qualidade.