Segundo e terceiro dias VI Encontro: Mesas de debates, oficinas e Terceiro Prêmio
O segundo dia do VI Encontro começou com a mesa de debates “O controle do estado e o papel da Psicologia e do Serviço Social em instituições que direcionam vidas e destinos”. Participaram dos debates a professora e assistente social, associada da AASPTJ-SP, Áurea Satomi Fuziwara e a professora e psicóloga Leila Torraca de Brito. Estava prevista a participação de duas juízas do TJ-SP, indicadas pelo presidente, desembargador Paulo Dimas Mascaretti, mas apesar de confirmarem presença, as magistradas não compareceram ao evento.
Áurea falou sobre o tema à luz do histórico do Serviço Social brasileiro, “uma profissão que ousou se posicionar contra o conservadorismo e ter um projeto onde afirma a democracia como socialização da participação politica e da riqueza socialmente produzida”. Ela trouxe alguns disparadores de análise para a reflexão coletiva, fundamentado no processo histórico da categoria dos assistentes sociais, partindo da visão marxista de que “o trabalho é o que nos torna humanos, à medida que construímos respostas às nossas necessidades. Neste sentido somos mais livres à medida que menos somos condicionados a apenas responder às necessidades imediatas de sobrevivência”. “Temos que pensar estas necessidades nós como assistentes sociais, que necessidades são colocadas em nosso cotidiano, nós como produtores de conhecimento, como pessoas fazendo o exercício deste conhecimento e como apresentamos respostas para a sociedade e também somos premidos a responder à demandas imediatas e é essa a nossa briga cotidiana”, expôs. “A professora Myriam Veras Baptista sempre dizia que é no cotidiano que projetamos as possibilidades do futuro. Então o futuro não está lá e de repente ele acontece, que passo estamos dando para chegar lá?”, completou.
A professora Leila falou do controle do estado da perspectiva da Psicologia, especialmente nas questões relacionadas à Família e à Infância e Juventude, nos quais se percebe um amplo processo de judicialização e criminalização. “Percebemos diversos Projetos de Lei com um clamor por penalizações, várias questões que chegam como novas, novos comportamentos e que nos são apresentados como problemas universais, como por exemplo, a questão da alienação parental e do bullyng”, alegou. “Outro dado que observamos é a ampliação do conceito de violência, perdendo um pouco do que é específico em cada situação”, observou. Ela ilustrou com o exemplo da violência doméstica: uma coisa é uma violência que ocorreu em uma relação conjugal, mas o âmago da questão é a relação conjugal. Outra coisa é quando transformamos tudo em violência doméstica, violência contra a mulher, onde o acento está na violência. “Neste Projetos de Leis, estas mudanças que vêm acontecendo, observamos que muitas justificativas são atribuídas à uma certa Psicologia ou ao entendimento de que a Psicologia diria isso ou aquilo. Não fica claro qual Psicologia, qual autor”, pontuou. “Então chegam uma série de diretrizes que chegam aos psicólogos nestas novas técnicas. Isso vai se somando: chega rapidamente como um problema universal e nós precisamos de novas técnicas para lidar com a questão, mas é como se não precisássemos pensar muito, já está aqui a técnica pronta é só aplicar”, completou. Ela ilustrou estas observações apresentando ao público seu estudo sobre a aplicação das diversas metodologias conhecidas como Depoimento Sem Dano, que vêm pipocando por todo o país.
Oficinas
Na parte da tarde, os participantes dividiram-se em seis oficinas temáticas, coordenadas por pesquisadores e especialistas, que trabalharam questões presentes no cotidiano profissional das duas categorias, tais como: a autonomia profissional, os novos desafios em Vara de Família (alienação parental, guarda compartilhada, novos arranjos familiares e a relação perito-assistente técnico), assédio moral e desgaste mental, violência doméstica, destituição do poder familiar, adoção e o adolescente em conflito com a lei.
Foi um momento de trocas de experiência, aprendizado e reflexões sobre como as questões temáticas aparecem e permeiam o cotidiano dos assistentes sociais e psicólogos no Sistema de Justiça. Acompanhe na próxima edição do Jornal Conexão um resumo do que foi discutido em cada uma das oficinas.
III Prêmio
No terceiro dia de evento, tivemos a premiação dos vencedores da terceira edição do Prêmio Serviço Social e Psicologia no Judiciário. Foram três vencedores na categoria “análise (teórico-crítica) de temas da prática e/ou análise crítica de trabalhos desenvolvidos ou em desenvolvimento, com a população atendida e/ou ações desenvolvidas nas varas” e um vencedor na categoria “análise (teórico-crítica) de temas da prática e/ou análise crítica de trabalhos desenvolvidos ou em desenvolvimento, com servidores” (veja aqui os trabalhos vencedores e indicados à publicação).
A psicóloga Mônica Carteiro, que compôs a comissão julgadora, juntamente com a assistente social Eunice Fávero e o desembargador do TJ-SP Samuel Alves de Melo Júnior, participou deste momento durante o VI Encontro. “Foi uma honra participar desta comissão e ter acesso a tantos trabalho que nos tocaram pelo empenho e dedicação de cada pessoa, de cada profissional que pôde dispor de seu tempo para este trabalho”, comentou.
A organização e articulação política de assistentes sociais e psicólogos e demais trabalhadores
Nesta última mesa de debates pudemos contar com as palavras da psicóloga e ex-presidente do CRP-SP Elisa Zaneratto Rosa e da assistente social e presidente da AASPTJ-SP e da AASP Brasil, Elisabete Borgianni.
Elisa trouxe um olhar histórico do percurso da Psicologia e do que resulta do modo como os psicólogos estão inseridos no mundo do trabalho e dos desafios que se colocam aos profissionais na relação com outros profissionais, mas também pensando no contexto atual e o que significa falar de luta e autonomia profissional nesta conjuntura. “É muito difícil delimitar a luta pela autonomia, a luta pelos direitos de uma classe de trabalhadores em um momento em que temos o conjunto de direitos ameaçados, uma pauta de retrocessos que avança drasticamente”, analisou. Ela apresentou dados da profissão para ilustrar como os psicólogos foram se organizando como profissão no Brasil. Elisa baseou-se nos dados da pesquisa “Quem é a psicóloga brasileira”, realizada pelo Conselho Federal de Psicologia em 2013. De acordo dom este estudo, 90% da categoria é constituída por mulheres, são mais de 260 mil profissionais no Brasil (em São Paulo, o dado está próximo de 90 mil). “Somos muitos no Estado de São Paulo e isso nos coloca o desafio: onde nos inserimos, como nos inserimos e como nossa trajetória de inserção produziu impactos do ponto de vista da nossa condição profissional, na medida em que nos tornamos muitos”, expôs.
Para falar da perspectiva do Serviço Social, Elisabete iniciou descrevendo a experiência da AASPTJ-SP. “É uma experiência maravilhosa, pois quando estamos em uma mesa de negociações estamos representando os interesses dos assistente sociais e psicólogos e ao mesmo tempo estamos somando com os demais trabalhadores”, disse. Ela afirmou ter se emocionado quando, na mesa de abertura do evento, o representante do Sintrajus (Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos da Justiça Estadual na Baixada Santista, Litoral e Vale do Ribeira do Estado de São Paulo), Alexandre dos Santos disse reconhecer na AASPTJ-SP não só uma luta pelas duas categorias, mas a luta geral dos trabalhadores do Tribunal. “Foi muito bonito ouvir isso, pois a nossa tendência poderia ser umbilical, corporativista das nossas duas categorias até porque temos um status diferenciado dentro do Tribunal, mas vir aqui um representante de um sindicato importantíssimo de todos os servidores do Judiciário, que entrou no TJ como menor colaborador e viu toda a nossa trajetória e vir aqui e dizer que assistentes sociais e psicólogos lutam por si e pelos demais significa que estes profissionais deram este passo à frente pela vivência no TJ e nas lutas gerais”, explicou.
A Assessoria de Comunicação está organizando e editando as filmagens do evento para disponibilizá-la no Youtube. Assim que estiver pronto, divulgamos. Aguarde!
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