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Texto para reflexão: A greve de 127 dias

Autor: 
Claudio Luis Garcia, representante de São Jose do Rio Preto


Neste momento em que encerramos o mais longo movimento de paralisação do Judiciário paulista gostaria de fazer uma breve reflexão sobre essa experiência e do sentimento que fica:


O primeiro, talvez muito pessoal, é o sentimento de satisfação por saber que fiz parte desse momento histórico. O mais longo e persistente movimento de trabalhadores do Judiciário na luta por salário, condições de trabalho e dignidade. Não tenho dúvida de que ficará nos anais da história, não só como um movimento do PJ, mas dos servidores públicos e dos trabalhadores em geral, pois resgata aquilo que muitos anunciaram convenientemente como morta: a capacidade de organização e mobilização de uma classe contra o poder arbitrário, contra a injustiça e a espoliação.


Sentir-me bem representado pela minha associação – a AASPTJ-SP, que coerente com suas propostas e de forma corajosa, se manteve no movimento, sabendo que essas escolhas são feitas em momentos de muita tensão e riscos, e que só se saberá se foi acertada lá na frente. E como foi uma decisão acertada, seguir em frente junto com o coletivo dos trabalhadores do Tribunal de Justiça e poder olhá-los nos olhos com a certeza de que lutamos juntos.


Neste particular, não poderia deixar de ressaltar a liderança que exerceu sua presidente, Elisabete Borgianni, carinhosamente chamada por nós de Bete. A maneira determinada, lúcida e corajosa com que se manteve a frente do movimento muito nos honra, pois tomávamos conhecimento de suas intervenções, seja junto aos desembargadores do TJ na Comissão de Negociação, seja no coletivo das demais associações e do sindicato. Essa postura e essa firmeza, imediatamente refletiram no lugar e no respeito que temos junto aos demais servidores, elevando, em muito, o apreço com que nos tratam. Sentimos isso em todas as manifestações aqui no interior ou em São Paulo. E não duvido que isso também ocorra junto ao Tribunal de Justiça.  Acho que deixa claro que nossa força não nasce da submissão a um outro, por mais poderoso que seja, mas do quanto nos reconhecemos como profissionais de valor e protagonistas das transformações sociais e institucionais necessárias para construir cidadania, principalmente àqueles que se vêem tão despojados dela.


Também não poderia deixar de mencionar a efetiva participação da equipe técnica de São José do Rio Preto, que atuou nos vários momentos dessa longa mobilização. De uma equipe de vinte e quatro profissionais, dezenove aderiram ao movimento, chegando próximo aos 80% de adesão, sendo que o Serviço Social atingiu os 100%.  E os méritos desses profissionais não ficaram apenas na paralisação, pois desempenharam papel importante nas assembleias regionais e em São Paulo, em intervenções na cidade e dentro dos fóruns, e na grande manifestação, em Brasília.  Essa participação coletiva, essas experiências profundas em compartilhar uma luta deixarão seus frutos na maneira como cada um vivencia seu cotidiano profissional e o trabalho de equipe, enriquecendo-o, com toda certeza.


Mas, se há motivos de alegria e comemoração, também há de preocupação e desapontamento com o balanço desse movimento. O que aconteceu com as equipes técnicas em todo Estado? Tivemos notícias de que no geral não chegou a 10% o índice de paralisação dos profissionais psicólogos e assistentes sociais. Será que isso reflete o quanto estão satisfeitos com seus vencimentos e com as condições de trabalho? Que estas atendem às necessidades para o exercício digno da profissão?  Há algo nesse número que devemos buscar entender, a começar por este mostrar apatia e resignação ou descrença na luta coletiva.  Como profissionais, que devido a suas formações deveriam ser fomentadores de transformações e avanços nas áreas social,  estão hoje desta forma? Debater essa questão me parece uma tarefa que não poderemos adiar, sem o que cada vez mais estaremos absorvidos por engrenagens que nos tiram qualquer poder de determinação, e com ele a saúde e a auto-estima profissional.


Enfim, movimento dessa magnitude como o que aconteceu no Judiciário paulista não se encerra com o retorno ao trabalho, ele deixa muitas lições com as quais devemos nos ocupar para o enfrentamento cotidiano da melhoria das condições de trabalho e salário, reconhecimento profissional, dignidade nossa e das pessoas que atendemos. Enquanto cidadãos e profissionais, não podemos abandonar o compromisso em construir uma sociedade equânime e promotora de valores. 


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