Mudanças na Lei Maria da Penha provocam polêmica na Câmara dos Deputados
Alterações na Lei Maria da Penha foram debatidas, no último dia 10 em audiência pública realizada pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. O tema específico está no projeto de lei 4501/2012, que altera o dispositivo da legislação sobre a repressão à violência contra a mulher.
A maioria dos participantes da audiência, composta por integrantes do Ministério Público, do sistema de justiça e da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), foi contrária à alteração. A secretária de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres da SPM, Aparecida Gonçalves, defendeu a necessidade da estruturação do Estado brasileiro para que a lei possa ser aplicada em sua plenitude. Aparecida lembra que a lei começou a ser implementada somente há sete anos. “Hoje temos no País apenas 600 delegacias especializadas, 90 juizados especializados e 40 defensorias especializadas”, informou.
A representante da SPM fez um resgate histórico sobre a construção da Lei Maria da Penha. Cida Gonçalves destacou que a Organização das Nações Unidas (ONU) apontou a lei brasileira como a melhor legislação do mundo. “No Congresso há 47 propostas visando alterá-la. Vamos alterar a lei considerada a melhor do mundo?”, questionou.
Conciliação
A proposta que provocou polêmica na audiência pública prevê a retomada da possibilidade de solucionar casos de violência doméstica mediante acordo da vítima com o agressor. Ela foi defendida pelo promotor de Justiça do Ministério Publico do Distrito Federal e Territórios, Thiago André Pierobom.
Diante da oposição manifestada ao PL, apresentado pela deputada Aline Correa (PP/SP), o promotor disse defender o aprimoramento da Lei Maria da Penha, não a sua descaracterização. A promotora de Justiça do Estado de Mato Grosso, Lindinalva Rodrigues, afirmou que a possibilidade de suspensão condicional dos processos de violência contra a mulher e formação de acordos significaria “a morte da lei”.
Para a promotora, a mudança seria um retrocesso. Ela declarou que a Maria da Penha ainda não é aplicada em todo o Brasil. “Se há dificuldades na implantação da lei, a nossa luta deverá ser por mais estrutura de trabalho, concursos para juiz e não devolver o problema para ser resolvido em casa”, observou.
A representante do Conselho Nacional de Justiça, Ana Maria Duarte Amarante Brito, identificou inconstitucionalidades no projeto de lei e disse que a instituição está atenta às mudanças propostas. “Nosso problema ainda é a implantação desse juizado. Ainda estamos tentando implantar a lei. Faltam juízes e unidades operadoras”, justificou. Em sua opinião, a Maria da Penha representa uma ação afirmativa.
Procurador da República e representante do Conselho Nacional do Ministério Público, Jefferson Dias, também ficou contrário à alteração prevista no projeto de lei. Ele considera inconcebível que a mulher ainda sofra agressão. Ao final do debate, a relatora do projeto, deputada Jô Moraes (PCdoB/MG), anunciou que vai propor a sua rejeição.